domingo, 25 de fevereiro de 2018



 
Kabikodepu

Faz tempo,
uma semente brotou no escuro breu…
Era a vida lá dentro.
Vinham a flor, o barro e o sustento.
Eram índios, plantas, gentes,
sapos-de-vidro, tracajás, tucumãs,
inajás e Manihot.

E a floresta assim cresceu…
Da pajelança ao kabikodepu,
de Aruak a Munduruku,
de Tucano a Yanomami,
de Karib a Sateré-Maué,
de Tupinambá a Waiãpi.

Oh mãe do mato!
Dá timbó pr’eu pescá.
Dá urucu pr’eu pintá.

Deu vida a Matinta Pereira,
em busca do fumo prometido.
E deu voz ao Uirapuru.
A bananeira sagrada que
cumpriu o Monte Roraima.
O Maricoxi e as Icambiabas
e seus Guacaris no Nhamundá,
na praia do Juruá.

E o choro do açaí alimentou
os povos da floresta.
Que hoje chora
o mistério que já não há.


TF [25/02/2018]

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